A cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, dados divulgados em 2023, do Anuário Brasileiro de Segurança Pública indicam que houveram 16.262 registros de suicídios em 2022. Essa é a terceira causa de morte na faixa etária economicamente mais produtiva, de 15 a 44 anos. E uma grande preocupação é que os índices sobem a cada ano. Em 2019, o Sistema de Informação sobre Mortalidade registrou 13.520 casos de suicídio. Desses, 9.977 eram trabalhadores. Não há como saber quantos aconteceram no local de trabalho, já que o governo não especifica a causa dos óbitos que ocorrem em serviço.
Mas esses números apontam o quanto a situação é alarmante e deve receber atenção especial nos locais de trabalho. Não é por acaso que os transtornos mentais são a terceira maior causa de afastamentos. Tanto que recentemente o Ministério da Saúde incluiu as condições laborais em suas estratégias de prevenção ao suicídio. Na atualização da lista de doenças relacionadas ao trabalho, ocorrida em 29/11/23, uma das patologias incluídas foi a tentativa de suicídio.
Campanha de prevenção - No mês de setembro acontece uma campanha conhecida como Setembro Amarelo, que é de prevenção ao suicídio. É uma oportunidade de destacar a urgência em se discutir formas de promover o bem-estar mental também nos locais de trabalho, disponibilizando inclusive uma atenção especial aos trabalhadores com transtornos mentais.
Estudos* apontam que causas do suicídio podem estar relacionadas, inclusive, à forma como o mundo do trabalho está organizado atualmente. Além da violência psicológica praticada por muitos superiores hierárquicos, com assédio moral, metas abusivas e cobranças excessivas, o relacionamento dentro da equipe pode também criar um ambiente tóxico. O incentivo à competição entre os colegas, além de ganhos centrados na produtividade individual, destruindo o espírito de coletividade e solidariedade entre os trabalhadores e estimulando o isolamento, são fatores que aumentam o risco de adoecimento mental e suicídio.
Mas um dos problemas é que grande parte das empresas ainda não reconhece sua responsabilidade nessas situações. Por esse motivo, tanto os transtornos mentais, quanto as tentativas de suicídio são subnotificadas. E, assim, há casos em que o trabalhador não encontra o apoio que precisava a tempo.
Meios de proteção - Em atividade** da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt), do Conselho Nacional de Saúde, a professora e pesquisadora Thaís Oliveira, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), apontou as representações sindicais como um dos meios protetivos da saúde mental dos trabalhadores. Segundo ela, são espaços seguros de escuta e diálogo.
Além de ser um dos locais apropriados para denunciar e enfrentar coletivamente situações de violência psicológica no trabalho, o Sindicato é um importante instrumento para cobrança de direitos já garantidos por legislações e convenções coletivas. Uma dessas legislações é a Norma Regulamentadora (NR-01), que será atualizada, conforme anúncio feito no início de agosto pelo governo federal. Com essa mudança, as empresas estarão obrigadas a implementarem medidas para que os colaboradores não adoeçam mentalmente devido à sobrecarga de trabalho ou a ambientes tóxicos.
Direitos e soluções - Há também o direito conquistado pelo SECI, que é o abono das horas referentes a atendimentos psicológicos. Para isso, a cláusula 46ª da Convenção Coletiva de Trabalho 2023/2025, prevê que o trabalhador deve entregar à empresa, em até 48 horas, o atestado ou declaração que comprova o atendimento. Outro benefício garantido pelo Sindicato é o convênio com clínicas que oferecem especialidades nessa área da psicologia e psiquiatria. Mais informações no SECI ou no Guia de Convênios, disponível no site www.seci.com.br.
Outra opção para quem busca ajuda é o Centro de Valorização da Vida (CVV), uma instituição de utilidade pública de prevenção ao suicídio, que presta um serviço de apoio emocional com atendimento sigiloso através do telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação). Caso algum trabalhador ou trabalhadora esteja precisando de ajuda, não deixe de procurar esses locais. E aqueles que desejam contribuir com a campanha, uma das formas principais é lutar por dignidade e acolhimento no local de trabalho. Ser o abraço, o ombro amigo, com presença e gestos de solidariedade pode salvar vidas.
* VIEIRA, Barbara; BANDINI, Marcia; AZEVEDO, Valmir; LUCCA, Sergio. Risco de suicídio no trabalho: revisão integrativa sobre fatores psicossociais. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/zpDz77Yzg5TmCWFLQXzvxxv
** A matéria sobre essa atividade está disponível em: https://www.gov.br/conselho-nacional-de-saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/sofrimento-psiquico-no-ambiente-de-trabalho-pesquisadoras-apontam-situacao-epidemica-na-saude-mental-no-brasil