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Dia Mundial da Água
Desafios para preservar os recursos hídricos

Acervo Aedas
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            Embora a maior parte da população da região do Vale do Aço tenha acesso à água tratada, uma parcela significativa ainda enfrenta dificuldades. O Informativo Comerciário entrevistou integrantes da equipe da Área Temática Socioambiental do Programa Médio Rio Doce da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) sobre os problemas relacionados à água em nossa região. Contribuíram com essa entrevista a bióloga sanitarista e coordenadora imediata da equipe, Vanessa Rodrigues, e o geógrafo e assessor técnico Ginno Pérez.

Informativo Comerciário: Em nossa região do Vale do Aço podemos considerar que as pessoas têm acesso à água de qualidade ou esse recurso é negado a uma parcela da população? Por quê?

AEDAS: Na região do Vale do Aço, que abrange municípios como Ipatinga, Coronel Fabriciano, Timóteo e Santana do Paraíso, a maior parte da população tem acesso à água tratada. No entanto, uma parcela significativa ainda enfrenta dificuldades. Segundo o Instituto de Água e Saneamento (IAS), em Ipatinga, 89,9% dos habitantes são atendidos pela rede de distribuição, enquanto 10,1% dependem de fontes alternativas. Em Coronel Fabriciano, 89,72% têm acesso à rede geral, mas 10,28% não contam com esse serviço. Já em Timóteo, 91,46% dos domicílios são abastecidos pela rede, enquanto 8,54% recorrem a outras fontes. Santana do Paraíso apresenta a menor cobertura, com 85,49% da população atendida, enquanto 14,51% dependem de poços ou outras soluções que podem não garantir a mesma  qualidade da água tratada.

Apesar da cobertura relativamente alta, a qualidade da água ainda é uma preocupação. O polo siderúrgico da região, com empresas como a Usiminas, historicamente contribui para a poluição de rios como o Piracicaba e o Doce, conforme apontam estudos do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Além disso, o legado da mineração, marcado pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana, em 2015, introduziu metais pesados nos cursos d’água, tornando necessário um tratamento mais complexo para garantir a potabilidade.

A precariedade do saneamento básico intensifica esse cenário. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2022) mostram que cerca de 15% da população do Vale do Aço não tem acesso à rede formal de abastecimento. Nas zonas rurais, a situação é ainda mais crítica: muitas comunidades são expostas à água contaminada por esgoto não tratado. Apenas 45% do esgoto gerado na região é coletado, e menos de 30% passa por tratamento, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). 

A falta de investimentos em infraestrutura e as desigualdades socioeconômicas perpetuam injustiças ambientais, conforme destaca a Fiocruz. Entre 2010 e 2020, por exemplo, a vazão do Rio Piracicaba diminuiu 20%, segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), agravando ainda mais a situação de comunidades já vulneráveis. Populações periféricas, rurais e tradicionais, como quilombolas e ribeirinhas, são as mais atingidas pela exclusão hídrica. A reversão desse cenário exige investimentos urgentes em saneamento universal, controle rigoroso da poluição industrial e participação ativa das comunidades na gestão hídrica, conforme previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997). Enquanto a água for tratada como mercadoria e não como um direito fundamental, a exclusão hídrica persistirá como uma violação estrutural na região.

 

Informativo Comerciário: Quais os principais problemas enfrentados com relação à água após o rompimento da barragem de Fundão?

AEDAS: O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015, causou um desastre ambiental de proporções imensas, atingindo o Rio Doce e comprometendo o abastecimento de água em diversas regiões. Após o desastre, os problemas hídricos se intensificaram, trazendo consequências que perduram até os dias de hoje.

Primeiramente, o dano imediato foi a contaminação das águas com resíduos da mineração, em especial a lama tóxica com rejeitos de minério, que resultou na morte da fauna e flora aquáticas e na alteração da qualidade da água. Isso prejudicou de forma direta o abastecimento em várias cidades ao longo do Rio Doce, colocando em risco a saúde de milhões de pessoas. 

Outro problema relevante foi a escassez de água em muitas regiões atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão. A qualidade da água caiu drasticamente, atingindo não apenas o consumo humano, mas também a agricultura e a pesca, atividades essenciais para a subsistência de diversas comunidades. O rompimento também provocou uma intensificação da insegurança hídrica, um termo utilizado para descrever a falta de acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente para atender às necessidades básicas da população.

 A água potável tornou-se escassa, e, em muitos casos, as populações precisaram recorrer ao fornecimento emergencial de água, muitas vezes, sem a devida infraestrutura ou qualidade.

Além disso, o rompimento da barragem trouxe consequências socioambientais graves, como o aumento da salinização das águas e o comprometimento da regeneração dos ecossistemas aquáticos. A lama despejada nos rios e nascentes impossibilitou a recuperação de áreas  críticas para o ciclo hídrico, prejudicando a capacidade de renovação dos corpos d'água. Esse dano é sentido até hoje, pois a recuperação natural desses ambientes é um processo lento e complexo.

A crise gerada pelo rompimento da barragem expôs a falta de uma gestão eficaz dos recursos hídricos no Brasil, que muitas vezes privilegia a exploração econômica em detrimento da preservação ambiental e da segurança das populações. A falha no monitoramento da barragem, junto com a ausência de políticas públicas adequadas de prevenção de desastres, evidenciou a fragilidade das estruturas regulatórias e de fiscalização em grandes empreendimentos minerários.

O rompimento da barragem de Fundão é um lembrete alarmante da importância de uma gestão responsável dos recursos hídricos e da necessidade urgente de adotar práticas mais sustentáveis. As lições tiradas desse desastre devem servir para aprimorar a regulamentação, a fiscalização e a gestão de barragens e dos recursos hídricos no país, garantindo que tragédias como essa não se repitam e que a água, um bem essencial, seja preservada e acessível para todos.

É por isso que a Aedas, na condição de entidade executora do direito à Assessoria Técnica Independente (ATI) às pessoas atingidas do Médio Rio Doce, acompanha, através de sua equipe multidisciplinar – que inclui as áreas Socioambiental, de Saúde e Vulnerabilidade, entre outras -, as demandas relacionadas à água nos quinze municípios que assessora, contribuindo para o registro técnico, acompanhamento e encaminhamento das demandas relacionas ao tema junto aos atingidos e atingidas de cada região.

 

Informativo Comerciário: O atual modelo econômico é compatível com a utilização sustentável da água? Por quê?

AEDAS: O modelo econômico que seguimos hoje, movido pelo lucro acima de tudo e pela exploração desenfreada dos recursos naturais, não combina com o uso sustentável da água. Isso fica claro quando olhamos para a região da Bacia do Rio Doce. Por muitos anos, a região tem sofrido com a degradação ambiental, a contaminação dos rios e os danos causados pela mineração, como mencionado ao começo. A água, que deveria ser um bem comum e de acesso para todos, muitas vezes acaba servindo aos interesses das grandes indústrias, enquanto as comunidades locais enfrentam dificuldades para ter acesso a um recurso limpo e seguro. 

A água tem sido tratada como uma mercadoria descartável dentro de um sistema econômico que pouco considera os limites da natureza e o bem-estar das pessoas. A sustentabilidade na Bacia do Rio Doce será difícil de alcançar enquanto o modelo econômico da região continuar baseado em atividades que consomem grandes quantidades de água e causam degradação ambiental, como a mineração e a siderurgia. A mudança requer romper com a lógica extrativista e adotar uma visão que reconheça a água como direito humano e eixo central da resistência socioambiental.

A Aedas reafirma a necessidade de um modelo econômico que respeite os direitos humanos e das pessoas atingidas e que garanta o uso sustentável da água, reconhecendo-a como um direito humano e um bem comum, e não como um recurso explorável para o lucro privado.

 

 Informativo Comerciário: Qual a importância de a sociedade lutar para mudar esse modelo econômico?

AEDAS: No atual modelo econômico, onde o consumismo prevalece, a busca por lucro muitas vezes se sobrepõe ao acesso igualitário a bem essencial, como a água, o que agrava as desigualdades e as vulnerabilidades sociais.

Essa lógica tem levado a tentativas de privatização dos recursos hídricos e ao aumento das tarifas, atingindo principalmente as camadas mais pobres da população. Para reverter esse cenário, é necessário promover uma gestão pública, democrática e justa da água, que equilibre o crescimento econômico com as necessidades das populações mais vulneráveis, garantindo o direito ao acesso universal e sem discriminação.

O acesso à água tornou-se uma fonte de tensão em diversas partes do mundo, especialmente em um contexto de crise hídrica global. Nesse cenário, a luta pela mudança do modelo econômico é essencial para assegurar a justiça social e ambiental, além de proteger um recurso vital para a vida humana. A mobilização da sociedade por essas mudanças contribui, também, para aumentar a conscientização sobre o uso responsável da água e a importância de sua conservação.

A Aedas acredita que somente por meio da organização e do protagonismo das comunidades atingidas será possível conquistar um modelo que respeite os direitos humanos e garanta o acesso universal à água de qualidade.

 

Informativo Comerciário: A Campanha da Fraternidade 2025 reforça essa luta? Por quê?

AEDAS: O tema "Fraternidade e Ecologia Integral" da Campanha da Fraternidade 2025 reforça a compreensão de que a crise ambiental, incluindo a escassez de água, é também uma questão de solidariedade humana. Ao abordar a relação entre o ser humano e a natureza de forma integral, a campanha convoca a todos a adotar uma visão de cuidado e respeito pelos ecossistemas como um reflexo de nossa responsabilidade com as futuras gerações. A ecologia integral propõe que a preservação dos recursos naturais, como a água, seja encarada  como um compromisso ético, onde a justiça social e ambiental caminha juntas.

Essa visão amplia a percepção de que a luta pelo direito à água não é apenas uma questão de acesso, mas também de solidariedade global. A Campanha da Fraternidade 2025 nos lembra que, para garantir que todos tenham acesso à água de qualidade, é essencial proteger as fontes naturais e promover um modelo de desenvolvimento que respeite os limites do planeta. Assim, ao adotar práticas mais sustentáveis e exigir políticas públicas eficazes, podemos contribuir para um mundo mais justo, fraterno e equilibrado para todos. 

 

Informativo Comerciário: Como as pessoas podem contribuir para melhorar o acesso de todos à água de qualidade?

AEDAS: O acesso à água de qualidade é um direito fundamental, e garantir esse direito a todos é um dos maiores desafios do nosso tempo. Embora mudanças profundas nas políticas públicas e na gestão dos recursos hídricos sejam essenciais, a contribuição de cada cidadão também pode fazer uma grande diferença na preservação desse recurso vital.

Mesmo pequenas ações diárias podem ter um resultado significativo na conservação da água. Ao adotarmos hábitos conscientes, não só ajudamos a melhorar o acesso à água de qualidade, mas também colaboramos para a proteção do meio ambiente e para a promoção de  justiça social, deixando um legado mais sustentável para as futuras gerações.

Proteger as fontes de água e os ecossistemas naturais é um passo essencial para manter a qualidade da água que consumimos. Atitudes simples, como não jogar lixo nos rios e lagos, evitar a poluição com produtos químicos e garantir o tratamento adequado dos resíduos, são fundamentais para preservar os corpos d’água e garantir que eles continuem abastecendo nossas comunidades com água limpa e potável. É importante que todos compreendam a relevância das nascentes e dos rios, pois são eles que alimentam o ciclo de regeneração dos nossos recursos hídricos.

 


Fonte : Ascom/SECI




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