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A violência de uma dita segurança pública
Intervenção militar no RJ é um experimento para todo o Brasil

Fernando Frazão / Agência Brasil
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16 de fevereiro de 2018. O presidente Temer assina o decreto para intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. O que isso tem a ver com os empregados do comércio de Ipatinga? Bombardeados por cenas de violência expostas pela mídia, alguns podem pensar que colocar o exército nas ruas, aumentar o armamento e a vigilância podem ser a solução. Mas não é. Isso é o que explica a jornalista Gizele Martins, comunicadora comunitária e moradora da Maré, conglomerado de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro, próximo ao Aeroporto Internacional, Linha Vermelha, Linha Amarela e Av. Brasil. 
 
Gastos com armas
 
“O Brasil está se especializando na sua forma de militarizar e controlar vidas. Tanto que em 2016 ficou em 10º lugar como o país que mais investiu na compra de armamentos de militarização para realização das Olimpíadas aqui no Brasil, no RJ. Ou seja, foi o 10º país que mais gastou dinheiro em tanque, caveirão, capacete, bombas de efeito moral, uniforme para polícia, colocando polícia para treinar fora do país, em Israel”. Esse investimento, segundo ela, faz parte de um plano de segurança que na lógica dos ricos está sendo bem feito, mas que na verdade serve para matar e controlar as vidas da maioria pobre, negra, nordestina, favelada. 
 
Segurança pra quem?
 
“Avalio a segurança pública do país como uma segurança que não é feita para nós, pobres, favelados, trabalhadores do campo, trabalhadores e população empobrecida em geral. Não é feita pra gente que é pobre. A dita segurança pública é feita hoje para proteger os ricos do nosso país, mesmo eles sendo minoria”, destaca Gizele. A jornalista lembra que essa proteção aos ricos é feita a todo custo, criminalizando, mantando e controlando a população pobre. “Não é por acaso que o nosso país é hoje o que mais mata negros no mundo. Existe um genocídio dessa população, assim como existe o da população indígena”. É por esse motivo que ela fala em uma internacionalização dessa forma de matar. “O caveirão que é usado no RJ é o mesmo que é utilizado por Israel para matar palestinos. É esse mesmo caveirão que foi utilizado no Apartheid na África do Sul”, destaca.
 
Massacres atuais
 
Essa afirmação de Gizele faz lembrar o Massacre de Shaperville, ocorrido em Joanesburgo (África do Sul), em 21 de março de 1960, quando tropas militares do Apartheid atacaram os manifestantes e mataram 69 pessoas, além de ferir uma centena de outras. Em homenagem à luta e memória desses manifestantes, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra o 21 de março como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
 
Discriminação que Gizele e moradores das favelas do Rio de Janeiro, além de pessoas das periferias de outras cidades brasileiras, trabalhadores rurais, indígenas, nordestinos, dentre outros, conhecem bem. “Durante a invasão do exército na Maré em 2012/2015 o governo federal investiu R$1,7 milhão para permanência de tanques de guerra na nossa porta. As pessoas eram revistadas 11 até 18 vezes por dia, tinha soldado na sala de aula, tiroteio constante, invasão das nossas casas, revistas das nossas bolsas, dos nossos corpos, crianças sendo revistadas. Hoje no RJ, assim como aconteceu em 2014, os soldados estão fazendo fichamento dos moradores dentro das favelas, que é uma prática que eu vi também na Palestina, com os check points. É uma prática que o exército está trazendo hoje para o Brasil, especificamente para as favelas do RJ nessa nova intervenção militar e isso é muito grave. Não podemos deixar isso acontecer no resto do país. Nós temos que lutar para que essa intervenção militar no RJ acabe imediatamente porque são as nossas vidas que estão acabando, são as nossas vidas controladas. Imagina o que é ter um tanque de guerra a cada esquina, o que é ser revistado, ter celular revistado, você não poder falar, ser censurado”.
 
Como por fim à violência?
 
É por essa razão que Gizele afirma que a intervenção federal não irá resolver o problema da violência no RJ ou no restante do país. Isso porque segurança pública não é sinônimo de polícia, nem de tanque de guerra ou de militarização. Segurança pública é sinônimo de cidadania. Para ela essa é a solução, oferecer direitos, principalmente o direito à vida e às coisas básicas como educação, moradia, saúde, lazer, cultura.
 
De acordo com a jornalista, o Brasil tem andado na contramão quando se fala em oferecer direitos. “Temos uma retirada de direitos como reformas trabalhistas, escolas e creches sendo sucateadas, universidades como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) falindo, e não é a toa. Essa universidade foi a pioneira das cotas no país. Quando a população empobrecida consegue ter um mínimo de entrada na universidade, eles tiram essa universidade da gente como tiram qualquer investimento em saúde, moradia, educação, cidadania e lazer”. Nesse sentido, a intervenção federal não é por acaso. Quando há uma retirada de direitos como essa, o exército entra em ação para que ninguém se manifeste. “Até mesmo porque é ano de eleição e eles querem segurar as campanhas, não querem que as campanhas de esquerda entrem em todos os espaços, eles querem que entrem campanhas da direita dentro das favelas”.
 
Mobilização popular por segurança pública de verdade
O tema da violência foi escolhido este ano pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para as discussões da Campanha da Fraternidade. Esse debate reforça o sentido de segurança pública que Gizele defende: um novo plano de segurança, surgido a partir da mobilização popular, para dar segurança a qualquer cidadã e cidadão, independente da sua raça ou classe social. Essa mudança, segundo ela, só é possível com o envolvimento da população que deve exigir do Estado investimentos em saúde, educação, lazer, esporte, cultura. “Segurança pública se faz com dando cidadania e não controlando as nossas vidas com mais policiais e tanques nas ruas como a gente vem experimentando infelizmente”, conclui.
 

Fonte : Ascom/SECI




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