Ascom/SECI
“Dentro do ônibus é muito difícil, porque a gente percebe que tem pessoas que não sentam do nosso lado só por causa da cor da pele”. Quem escuta um depoimento desse em pleno 2022, não imagina o quanto os resquícios da escravidão, supostamente abolida há 134 anos, continuam presentes no dia-a-dia. A cena de racismo, descrita pelo diretor do SECI, Ademir Francisco, é só uma parte desses resquícios enfrentados em seu cotidiano.
A abolição da escravatura em 13 de maio de 1888 não é comemorada pelo movimento negro principalmente porque essa lei não criou condições para que a população negra se inserisse dignamente na sociedade. As pessoas recém-alforriadas continuaram excluídas, sem direito à emprego, comida e moradia. Foram morar em favelas e continuam sem políticas públicas que façam a reparação dessa desigualdade. Tanto que as estatísticas apontam que a população negra é maioria dentre os desempregados e, quando empregados, recebem 57,7% apenas dos rendimentos das pessoas de cor branca. São maioria também entre os mais pobres da população, os moradores de periferias, os que ocupam o subemprego, os analfabetos, entre a população encarcerada e os que são assassinados diariamente.
Esses dados provam que a verdadeira abolição não aconteceu e que é preciso lutar para que ela aconteça. Em artigo publicado no Brasil de Fato, a vereadora Carol Dartora*, aponta o caminho para que isso aconteça. “Apenas as leis muitas vezes são insuficientes frente aos desafios colocados pela sociedade. Essa emancipação necessita de uma mudança sociopolítica-cultural, e é por meio do pleno exercício da cidadania da população negra que chegaremos nesse ideal, ou seja, com direito à educação, à saúde, à moradia, à vida. Só assim deixaremos de viver na sociedade do escravismo sem fim”.
* Carol Dartora é vereadora, primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal de Curitiba. Feminista negra, professora de História, mestre em Educação, secretária da Mulher Trabalhadora e Direitos LGBTI+ na APP-Sindicato.